Luto

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Durante muito tempo escrevi sobre "a casa dos três velhinhos", sendo eles meu avô, minha avó e minha tia avó.
Sempre me referi a essa casa como a casa suspensa por um fio de nylon, pois a falta de um dos três velhinhos faria tudo desmoronar.

Hoje, com muita tristeza, recebi a notícia de que o fio de nylon finalmente se rompeu. Cheguei da faculdade e minha mãe ligou para avisar que minha tia avó, de 83 anos, foi embora. Morreu cercada de estranhos, numa cama de UTI. Morreu sozinha, como acontece com quase todos nós.
Se ela teve alguma dignidade em seus últimos anos de vida, foi graças aos meus avós, que cuidaram dela com todo o amor que podiam dar.

Mas felicidade ela não tinha, nem esperança de voltar a ser feliz algum dia. As razões que envolvem isso são complexas demais para eu escrever aqui. No momento, nem tenho espírito para isso. O que importa é que ela foi embora e nós, da família, não lamentamos somente pela sua morte, mas também pela vida que ela teve. Pela vida que ela não teve. Acho que conforta um pouco quando você sabe que a pessoa era feliz, o que não foi o caso. Seus últimos anos foram um trailer do qual todos sabíamos o final. Uma história lenta e de poucos sorrisos.
Mas dói. De qualquer forma dói. Por mais que seja reconfortante saber que alguém que você ama não está mais sofrendo, fica sempre aquela sensação de que você podia ter sido uma pessoa melhor. Para fazer alguém rir e se distrair um pouco do sofrimento, vale até dar falsas esperanças. Vale mentir, vale tudo.
Foram raros os momentos em que vi minha tia avó sorrir, mas eles existem. Sei que existem. Estou tentando cavar em minha mente essas lembranças. Caçando sorrisos, enquanto escrevo. Até os sorrisos tristes são bem vindos.
Fique em paz, minha tia. Será sempre a casa dos três velhinhos. Espero que possa encontrar a alegria que não teve por aqui.

Diego

23/02/2011

 
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