Qual idade

Atchim.

Não é uma palavrinha estranha? Quem a inventou provavelmente foi um baita de um gênio. É relativamente simples você transformar em letras o som de uma buzina, um latido, ou até mesmo um avião passando...

Mas um espirro? Não é pra qualquer um!

Não sei quem foi a primeira pessoa que precisou transcrever o som de um espirro, mas deve ter sido neste momento que a tal perguntou:

 

- Como diabos é o som de um espirro?

 

Não deve ter acertado de primeira, especulo. Imagino que algumas tentativas foram feitas, tais como:

 

“Caaathôôôô!”

 

“Ghiiroooff!”

 

“Káááárlôs!”

 

Depende do espirro, mas depois de muitas observações, o inventor da onomatopéia deve ter percebido o padrão do espirro. Começa com um áááááááááá que se prolonga por algumas notas em fá sustenido e explode no TCHIM!

É no TCHIM que voa partículas de saliva, cuspe e germes pra todos os cantos, sem poupar ninguém.

Bom, independente da origem da palavra, usá-la-ei para divagar sobre uma regrinha da boa educação um tanto escrota que nós temos.

 

- Atchim!

- Saúde.

 

Prestaram atenção? Vou dar o replay:

 

- Atchim!

- Saúde!

 

Por que quando os outros espirram, imediatamente falamos saúde? No meu caso, eu sempre pronuncio o “saúde” em voz quase inaudível. Por quê? Porque fico constrangido. Sério mesmo.

Acho uma babaquice inventada esse negócio de sermos obrigados a falar saúde quando alguém espirra...

Bom, obrigado mesmo nós não somos. Só somos obrigados a falar obrigado, que é quando somos obrigados a agradecer (?).

Na nossa cabeça, ficar em silêncio diante de alguém que espirra é uma tremenda grosseria. É como se você estivesse cagando pra pessoa, sabe? Como se a desgraçada da pessoa tivesse tendo um troço na sua frente enquanto você fica ali, só dando aquela espiadinha...

Pois quando eu espirro e alguém me deseja saúde, fico igualmente constrangido. Ainda mais se for um daqueles discretos ataques de espirro, uma saraivada de cinco espirros em intervalos de dois segundos. Se a pessoa deseja saúde logo após o primeiro espirro, nos espirros conseguintes a pessoa metida a engraçadinha repete o “saúde” mais quatro vezes, só para você finalmente terminar de espirrar e o babaca comentar brilhantemente:

 

- Tá mal, hein?

 

Sabem o que acho? Que as regras da boa educação deveriam ser mais claras no interior dos ônibus urbanos.

Estou falando especificamente da porra dos assentos preferenciais.

Eu não sento nos assentos preferenciais. Sabem por que eu não me sento neles?

 

Porque não sou idoso (apesar de ser resmungão).

Porque não sou deficiente (eu acho).

Porque não estou grávido (apesar de viver enjoado).

 

E SE EU NÃO ME ENCAIXO em nenhuma dessas categorias, não vou colocar minha bunda num assento preferencial! A não ser que o ônibus esteja muito vazio, e mesmo assim, não vou querer sentar no bendito assento preferencial se o troço estiver vazio.

Mas ó, o negócio é seguinte!

Mesmo não em sentando nos assentos preferenciais, me sinto impelido a levantar da minha cadeira quando não tem mais lugar no ônibus e um velhinho chega no pedaço. Quando percebo que NINGUÉM que está sentado no assento preferencial se levanta educadamente e cede lugar ao idoso, eu sempre ofereço o meu...

E é exatamente aqui que eu queria chegar.

Já aconteceu com vocês de oferecer lugar para alguma velhinha que se sentiu ofendida quando você fez isso? Vocês sabem, tipo assim, uma velhinha que de repente não se acha ainda tão velhinha, apesar de parecer um maracujá gigante?

Comigo já.

E daí, ironia das ironias, você se sente um grande mal educado. E tudo porque você quis ajudar!

Mas até entendo. Deve ser um choque você estar num transporte público e do nada um jovem olhar com bondade pra você e te oferecer o lugar dele. Na primeira vez que isso acontece, a pessoa deve passar pelo primeiro estágio: o da negação.

 

- Eu não estou velho!

 

É, amigão. Você pode até não se sentir velho, e pra isso não tem idade...Mas a maneira que o mundo te enxerga superficialmente é proporcional ao nível de educação que terão com você.

E ser ou não educado depende sempre do que a outra pessoa considera educação ou não.

Outro dia uma senhora espirrou perto de mim e ficou esperando, olhando pra mim. Não disse nada e ela torceu a boca, incomodada.

 

- O atchim é todo seu. – limitei-me a dizer.

 

Fiz uma reverência educada e saí de fininho.

 

 

Diego Gianni

(27/01/2011)
 
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