Única

Os amigos tentaram lhe consolar com velhos clichês:

Há outras flores no jardim.

Depois de uma noite escura sempre vem o raiar do dia.

Seu erro foi colocá-la em um pedestal.

Coma uma barra de chocolate. É a mesma sensação de estar apaixonado.

 

Ele forçava um sorriso e dizia que sim, eles estavam certos (queria acreditar que eles estavam certos). Os mais fatídicos diziam:

 

- Sai dessa! O amor só machuca.

 

Curiosamente, no mesmo dia em que ouviu essas “palavras de consolo”, leu em um artigo que a ciência em breve trará novidades sobre a fórmula do amor. Não foi um texto preciso em apontar se tal recurso se dará por meio de algum perfume ou pílulas coloridas, mas o fato é que o extremo da ciência moderna tem como meta descobrir a fórmula química do amor, da paixão...E ele, descrente de tudo, viu com bons olhos a perspectiva de que um dia ninguém mais precisará sofrer por um amor perdido, ou mesmo por um amor que nunca saiu dos versos de um papel.

Mas como ele poderia explicar? Como alguém poderia entender o que ele sentia por aquela moça?

 

Eram amigos, amigos de verdade, e o carinho que ele sentia por ela era tão intenso, que de um jeito ou de outro ele era apaixonado por ela. Tinha ciúmes de ver ela com outros rapazes.

Era verdade que ele podia se apaixonar por outra mulher? Sim, era, e ainda poderia. Tinha que poder para seguir em frente, ser feliz porque a vida é uma só.

Nem o ápice da ciência, e muito menos os clichês, poderiam dar-lhe algum tipo de conforto.

Apenas Deus poderia, e em Deus ele não cria. Só Deus poderia explicar por que aquela mulher havia aparecido em sua vida, àquela mulher que por princípio seria a sua própria vida.

E eles dizem que há outras flores no jardim. Se eles pensam assim, é porque nunca tiveram a sorte de encontrar em meio a um milhão de flores a única que você gostaria de segurar com carinho por toda a sua vida. E uma vida pode ser muito pouco para tanto amor.

O jeito dela falar, de sorrir, de olhar, de irritar, faziam dela única. Não poder tê-la faziam da sua dor também única. Qualquer outra flor que a substituísse poderia até que amenizar a dor, mas nunca curar.

Ele sempre se lembraria dela, daquela flor que ficou esquecida no jardim, intocável, sonhada, um dia apagada pelo tempo.

 

Ela não sabe, mas ele a regou com suas lágrimas.

Não foram poucas as noites em que ele sussurrou para o vazio:

 

Se eu tivesse seu amor, acreditaria de uma vez em Deus. Não teria mais duvidas ao ver em meus braços tamanha perfeição, tamanha paixão. Olharia em seus olhos e saberia que só alguém como Deus poderia ter colocado você na minha vida. Eu não saberia explicar e ninguém poderia entender a minha felicidade.

Seria uma outra vida.

Eu, seria uma outra pessoa.

Você, como sempre, a única.

 

 

Diego Gianni

(24/03/2011)

 
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