Bibelô

No bairro do Ipiranga, um guri sai do parque do Ibirapuera a passos de caramujo, respira fundo e corre ao encontro do pai - que buzina freneticamente por ter estacionado em local proibido. O velho veste uma camisa da CBF. É dia de passeata. Dia de protestar contra a corrupção que assola este país.


- Como foi o jogo?


O pré-adolescente responde com um “assim, assim”. Tudo neste país está assim assim, confabula o patriarca com um resmungo inaudível aos ouvidos do menino Geração Z.


Mais buzinas, agora coletivas. Congestionamento inesperado, porém nada surpreendente. Mas que diabo, é domingo.


- Será que foi acidente? – algum ingênuo num carro próximo pergunta a ninguém.


Com efeito, alguns ouvem no rádio que houve uma fuga no zoológico. Então se reconhece a causa: um monstro está atravancando o caminho dos patriotas, algo que não se vê todos os dias. Inesperado. Surpreendente. Ainda assim, um mamífero como eles, e como tal, quem ele pensa que é?

 

Dá-lhe pregar a mão na buzina, aqui e acolá. Resignado e temeroso pelo aumento da pressão, o patriota se limita desligar a chave, entreabrir a janela do carro e comentar com sua prole:


- Olha, filho. – aponta para o elefante branco. - Uma metáfora.

 

Diego Gianni

 
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