'Cresci com vozes de mulheres'

Cresci com vozes de mulheres.
Uma me trouxe ao mundo,
criou-me sem que um fío da mãe ajudasse.
Vi a mesma fábula suceder com minha tia
e com outras tias.
Uma remenda, outra costura,
doutra fia,
e meu irmão, fío doutro,
se aprumou no mesmo ninho,
que de cada um se leva um pouco,
e no mais, vai tudo sozinho.
Cresci com mais senhoras do que senhores,
e pelo bem da rima,
mais sopranos do que tenores.
Fora as que não conheci!
- ou não me alembro -,
mas estiveram na minha vida de passagem.
Minha bisa,
que chegou a me dar colo.
Dizem que me amava,
não sei se disse algo.
Da minha vó nem falo...
Esta tinha um apego na vida,
que já com o corpo sem poder,
morreu de pé,
cabeça encostada no ombro do Zé,
sem nem saber que foi, pois se soubesse,
tinha dado três tocos de bengala em terra firme
e teimado com tamanha ousadia.
Minha noiva, que de abusado chamo de metade
- pois ela é mais do que eu
e isso é excesso de vaidade –,
tem tanta luz que fez lampejar minha alma de neblina.
Agora,
vê lá no tal horizonte a vida e suas janelas?
Justamente, quem me abriram as persianas
foram elas!
Minha tristeza é uma senhora.
Minha esperança é uma menina.
Cresci com vozes de mulheres.
Amor é renúncia,
e minha alma é feminina.

Diego Gianni
(08/03/2017)

 
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