Entrevista exclusiva: Kell Smith lança "Girassol"

Por Ana Claudia Justino

 

b8a015122412fdc5287ec5cf193b035b.1000x1000x1 e1524813153188
Novo álbum de Kell Smith. "Girassol" está disponível em todas as
plataformas digitais. (Foto: Divulgação)

 

 

 

Fui ao encontro de uma garota que aos 25 anos de idade anda embalando muita gente com a sua arte de fazer pensar naquilo que é essencial, em ser um Ser completo sem a influência externa.

 

 

Ao chegar ao camarim me deparei com grandes olhos verdes e brilhantes, o sorriso veio logo em seguida e um convite para ficar próxima aos quitutes da mesa do lanche me foi feito.

 

 

Ela é Kell Smith, seu nome parece de cantora americana, ela até lembra algumas. Articulada e com ideias profundas, ela se preocupa em responder com o máximo de informações e porquês, algo que surpreende qualquer jornalista em meio a tanta superficialidade.

 

 

Kell Smith é filha de pastores missionários e o seu sucesso é também vitória de seu pai que a incentivou a seguir carreira profissional na música. Foi ele quem deu o primeiro passo ao dar a ela uma passagem só de ida em busca pelo reconhecimento do público. O prazo foi de um ano e ao completar exatos 12 meses Kell comprovou a aposta do pai.

 

“Era Uma Vez” é seu primeiro sucesso nacional, com um novo álbum quentinho a cantora traz para o público um trabalho completo, um álbum chamado “Girassol” que faz referência ao meio social, ao amor e a reflexão. Uma voz doce e marcante ao mesmo tempo. Ela quando canta acalma os ouvidos e te transporta para a sua essência.

A seguir a entrevista completa.

 

 

35463655 1605688192873197 5453754347248680960 n
Kell Smith antes da apresentação no Conexão Transamérica Light. (Foto: Ana Claudia Justino)

 

 

 

AC - Você deve escutar muito isso, não sei, mas você se classifica como uma pessoa saudosista?

 

KS - Acho que não. Acho que seria prepotência. Eu digo “acho” não porque eu nunca pensei a respeito, mas porque para a arte a gente não pode ter tanta certeza assim ao nomeá-la.

Eu ouço muita coisa que se enquadra então eu não me enquadro, porque é prepotência da minha parte. Eu sou uma mistura daquilo que eu ouço e uma mistura daquilo que eu penso.

 

 

AC - A música "Era uma Vez" é sua? A inspiração está neste misto do presente com o passado?

 

KS – Foi fruto de uma reflexão. Eu já queria falar sobre saudade, mas era uma ideia bem despretensiosa, queria falar sobre saudade, mas eu ao sabia como abordar, porque é tão amplo.

 

 

Eu reuni o meu melhor amigo e outros amigos próximos, e essas pessoas participaram desse laboratório onde perguntei: “Do que você sente saudade?”; “O que mais te faz sentir assim com esta sensação de nostalgia e saudade em si?”. E aí todo mundo dava vários exemplos, só que uma hora chegava na infância, foi um ponto em comum, eu senti na obrigação poética de descrever sobre a saudade da infância.

 

 

É uma música que fala sobre uma verdade atemporal e é universal.

 

 

AC - Você canta há quanto tempo?

 

KS – Faz quatro anos.

 

AC - Qual é o papel do seu Pai na sua escolha pela música profissional?

 

KS – Ele é incrível! Eu o culpo da melhor forma possível. Eu o culpo sempre, porque foi ele desde o inicio.

 

 

A minha pretensão era me formar e ainda na dúvida do que eu nasci para ser, mas eu não pensava em música. Eu sempre fui uma boa ouvinte de música, sou de família musical, meus pais são pastores missionários, eu cresci dentro de um ambiente que é extremamente musical, senão o mais musical possível para se viver.

 

Como filha de pastores eu morava na igreja praticamente e era música 24 horas por dia, até os 12 anos de idade só música gospel, depois aconteceu uma mágica chamada Elis Regina e as coisas mudaram, mas eu sempre consumi muita música boa, sem ser pretensiosa novamente.

 

 

Quando eu fui desafiada, insultada pelo meu pai a ser alguém útil, disse: “Calma aí, eu sou útil! Eu contribuo, a gente tem uma família incrível!”. Ele me retrucou dizendo que “ser útil para quem você ama é muito fácil. Você deve ser útil para quem você não sabe o nome, para quem você não conhece.”.

 

 

Isso me indignou a ponto de mudar a minha vida. Ele (Pai) é o cara! Não sei o que dizer... Eu queria matá-lo quando ele me deu uma passagem só de ida, eu queria matá-lo!

 

A minha filha ficou com ele e minha Mãe, a maior segurança que ela seria tratada como eu e educada como eu, o problema era a saudade, mas eu fui com a passagem só de ida. Eu lembro que eu cheguei na rodoviária e o ônibus já tinha ido, porque eu de um jeito de atrasar, e ele (Pai) me levou até a rodovia que era a segunda parada do ônibus e falou: “Você vai!”.

 

AC – Levando em consideração a sua relação com a igreja, você se define com mais espiritualidade ou com mais religiosidade?

 

KS – A igreja não sai de você quando entende que você é a igreja. Eu cresci ouvindo os meus pais dizendo que Deus era o Deus da bíblia de verdade, a imagem do Cristo e este Cristo não amava apenas um tipo de pessoa, ele amava todos. Ele não amava apenas brancos e héteros de classe média.

 

 

Eu sou muito liberta de tudo que a religião estragou, porque a igreja me serviu como espiritualidade, eu aprendi a como me conectar com Deus e isso ninguém me tira, por isso a igreja permanece em mim. O que a religiosidade tem de dogmas e costumes isso é uma questão que eu não entro, porque eu acredito que cada Ser é um Ser.

 

 

Tem milhares de pessoas que falam mal da igreja evangélica, do ser protestante em si, mas eles têm um papel social gigantesco. Querendo ou não a doutrina religiosa tem um papel em manter fora da prostituição, das drogas que é muito grande. Cada um tem a “vista” que escolhe ter.

 

Kell Smith faz show gratuito no Mirante 9 de Julho

"A igreja não sai de você quando entende que você é a igreja.", fala
Kell Smith sobre a sua relação com Deus. (Foto: Divulgação)

 

 

o artista nao pode ser imparcial afirma kell smith apos lancar primeiro disco

"Era uma Vez" de Kell Smith vem da necessidade de falar sobre saudade. (Foto: Divulgação)

 

 

 

 

AC - O que o sucesso te trouxe de mais precioso? Fora os fãs que a gente nem precisa dizer que são parte da sua estrutura.

 

KS - Os fãs com certeza em primeiro lugar. O meu sucesso significa descobrir que eu não estou sozinha, porque eu faço música para as pessoas e eu sou uma pessoa, eu faço música pra mim também. Ás vezes eu preciso ouvir “Era uma Vez” para me tocar, porque eu já acho que não dá para viver em um mundo tão feio, eu preciso também descobrir aquilo. Eu faço música para pessoas reais. Essas pessoas representam o meu maior valor. É ter pra quem falar o que eu tenho a dizer.

 

 

AC - Lidar com o assédio em meio às redes sociais deve ser um desafio, como você faz para não ser influenciada por comentários e falsas notícias na internet?

 

KS – Eu tenho redes sociais pelo simples motivo de criar um canal de comunicação com os fãs. Não era uma coisa que eu usava, eu nunca me interessei, porque eu tinha uma visão muito pequena, a ignorância te faz pensar pequeno, a ignorância te faz não ver amplamente, eu era essa pessoa ignorante a ponto de não ver amplamente, eu pensava que tinha um papel apenas de diminuir quem não se encaixava no padrão perfeito tornando a vida das pessoas impossivelmente, o impossível no sentido da felicidade, é tão impossível chegar naquele padrão que você assiste nas redes sociais que você se autossabota. Não gosto muito desse papel da exposição neste sentido, mas também me deu a oportunidade de ter contato com pessoas que eu descobri que são reais.

 

A internet é tão faroeste, é tão sem regras que um comentário pode estragar o seu dia e um comentário pode acabar com a sua autoestima, ou também pode fazer a diferença. Na verdade a gente fica colocando a culpa na internet, mas quem a manipula de uma maneira escrota somos nós.

 

 

É uma questão de educar sempre. Eu acredito que o remédio para o mundo está na educação e no amor. Principalmente o amor. Ninguém nasce sabendo como vive. Tem pessoas que não sabem o que é viver sem internet, que já nasceram nessa era. Como você explica como é a vida fora? Você tem de explicar como é a vida em conjunto.

 

 

Existe este universo e faz parte de uma vida inteira em que você destina um tempo para viver aqui onde consome todas essas informações, e depois destina um tempo para viver aquilo que é essencial. Você é um Ser, precisa da vida real, precisa de algo palpável.

 

kellsmith 10 04 2018 4482 Recovered

Editorial para o álbum "Girassol" de Kell Smith. (Foto: Divulgação)

 

ks 1

""Ai de Mim" fala de pessoas que não conseguem ver pessoas felizes.",
explica Kell Smith. (Foto: Divulgação)

 

 

 

AC - E será que a música “Ai de Mim” é um recado para essas pessoas que estão preocupadas com a vida alheia?

 

KS – Não foi o tema da questão. “Ai de Mim” tem uma história muito mais debochada. Fala sobre pessoas que não conseguem ver pessoas felizes. É muito estranho isso, mas tem! Todo mundo vive com pessoas assim em volta e aí você vai e faz uma rede social, por exemplo, eu te tenho mais de 200 mil seguidores, não tem só gente que me ama. Seria falso pensar isso.

A pessoa vai lá e gasta um tempo, uma energia, uma internet pra não gostar de mim e me seguir. Pra mim nada disso faz sentido, apesar de ser tão costumeiro que já é normal, mas “Era uma Vez” fala sobre isso, fala sobre não permitir que pareça normal.

 

E “Ai de Mim” é uma parceria com uma pessoa que é muito importante, que é o meu guitarrista e partiu a história dos dois. Nós dois temos filhos e a letra veio da música do “elefante incomoda muita gente”.

 

 

AC - Aproveitando que estamos falando sobre significado, “Girassol” traduz qual parte da sua essência para o público?

 

KS – “Girassol” é uma questão de honra, porque eu cresci ouvindo artistas que preparam uma obra completa. Você imagina só se a Adélia Prado resolvesse soltar spoilers de um livro e não terminasse de contar a história? “Como assim, miga? Apresente a sua obra!”.

Eu cresci ouvindo artistas que preparam o álbum, que entregavam algo que era material, hoje já não é mais tão possível, existe o DC físico, mas ele também já é saudosista.

 

 

Pra mim foi uma questão de honrar quem me deu referência para que hoje eu tivesse aqui falando isso, que foram os artistas que me influenciaram não apenas na minha carreira, mas na minha vida, a forma de ver a música que é a arte que hoje eu faço. Em respeito a eles eu também quis apresentar uma obra completa. Isso é “Girassol”.

 

 

É possível encontrar o álbum “Girassol” nas principais plataformas digitais.

Última atualização em Sex, 15 de Junho de 2018 14:28  
Copyright © 2011 Acontece Curitiba. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por LinkWell.