Exposição inédita do fotógrafoTheodor Preising

Com estreia no dia 25 de janeiro de 2018, mostra homenageia os 464 anos da cidade e marca o aniversário de um ano da Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp. As 61 fotos são registros da primeira metade do século XX, realizados pelo alemão radicado no Brasil

 

03Theodor Preising: Carnaval na Av. São João (1936)

 

O retrato do projeto magnânimo de uma cidade prestes a se transformar em uma grande metrópole; a construção de um parque industrial e a verticalização de seu centro histórico, acompanhados por um crescimento populacional inédito: esta foi a São Paulo registrada pelas lentes do fotógrafo alemão Theodor Preising (1883-1962). Seu trabalho, ainda pouco reconhecido, mas crucial para a documentação de toda uma época, agora é celebrado pela exposição São Paulo: Sinfonia de uma Metrópole,mostra que a Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp recebe de 25 de janeiro a 25 de março de 2018, com entrada gratuita.

Com curadoria de Rubens Fernandes Junior e concepção da Brazimage, a exposição reúne 61 imagens em preto e branco, registradas entre 1925 e 1940, além de revistas e cartões postais da época. A mostra traz ainda trechos do filme São Paulo, sinfonia da metrópole (1929), que inspirou o nome da exposição. Exercício de vanguarda cinematográfica brasileira, o documentário cultua a modernidade então recém-chegada à capital paulista.

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A exposição apresenta ao público um panorama documental da cidade durante a primeira metade do século XX. A chegada dos imigrantes ao Porto de Santos e às hospedarias paulistanas, o carnaval de rua da década de 1930, o lazer sediado pelo antigo Sport Club Germânia – hoje Clube Pinheiros –, e a passagem do dirigível Zeppelin pela capital são alguns dos ensaios de Preising que poderão ser conferidos de perto.

As colheitas do café e do algodão no interior do Estado, razão da riqueza que sustentava a elite paulistana, também foram temas de seus registros. Sua versatilidade técnica e qualidade estética possibilitou formar um amplo inventário criativo e documental sobre o Estado, oferecendo ao público uma visão privilegiada sobre a formação da capital no período entre as duas guerras.

Perspicaz, o fotógrafo teve sensibilidade aguçada ao entender que o momento era de transformação, não somente do espaço urbano, mas também das relações sociais. A cidade se modernizava com a clara intenção de atrair novos investidores.

“Costumo dizer que a fotografia brasileira é um grande iceberg, do qual conhecemos a ponta. Quando tratamos dos fotógrafos do período entre guerras, por exemplo, [Guilherme] Gaensly e B. J. Duarte estão no mainstream e, justamente por isso, são reconhecidos pelo grande público. Theodor Preising tem um trabalho tão importante quanto os demais, mas infelizmente acabou caindo no esquecimento”, pontua o curador. “Essa mostra vem justamente para trazê-lo para a ponta do iceberg. A exposição nasce com o intuito não só de ressignificar o seu acervo, mas também apresentar ao público uma releitura de uma cidade que mudou muito ao longo dos últimos 80 anos”, conclui.

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Theodor Preising – Uma figura a ser revelada

Nascido em 1883, em Hildesheim, Alemanha, Theodor Preising foi fotógrafo nas frentes de combate da Primeira Guerra Mundial. Tal experiência, combinada à difícil situação econômica alemã no período pós-guerra, foi fundamental para a sua decisão de emigrar.

Em 1920, viajou à Argentina com a ideia de estabelecer residência. Insatisfeito, chegou ao Brasil em 1923 – morou primeiro no Guarujá, e depois em São Paulo, onde montou seu laboratório. Uma das suas primeiras atividades empreendidas por aqui foi a de comercializar máquinas fotográficas, acessórios e cartões postais no Grande Hotel de Guarujá. 

A partir de 1924, depois de já instalado na capital, começou a produzir cartões postais e álbuns de várias cidades do Brasil, atividade então inovadora e fundamental para a distribuição das imagens do país mundo afora. Além de São Paulo, as cidades de Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Petrópolis, Salvador, Curitiba, Joinville e Foz do Iguaçu também tiveram seu dia-a-dia registrado pelas lentes do fotógrafo. Esta produção se estendeu até o início da Segunda Guerra Mundial, quando o governo proibiu os estrangeiros dos países do Eixo de fotografar nos espaços públicos. Preising se voltou, então,às culturas de café e de algodão no interior de São Paulo e do Paraná. 

No início da década de 1930, colaborou com a revista The National Geographic Magazine e com o jornal O Estado de S. Paulo. Foi um dos primeiros profissionais a introduzir no Brasil as câmeras de pequeno formato, como a Leica e a Contax, o que lhe permitiu realizar ensaios fotográficos com agilidade e precisão não muito comuns para época.

Em 1936, juntamente com Benedito Junqueira Duarte, fotografou para a Revista S. Paulo, publicação do governo paulista que se tornou a grande experiência modernista de revista ilustrada no país. Trabalhou ainda no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) durante o governo de Getúlio Vargas e na Universidade de São Paulo.

Preising deixou um acervo com mais de 16 mil negativos, que hoje pertencem ao seu bisneto Douglas Aptekmann. “Não cheguei a conhecer o Theodor, mas meu avô, Carlos Preising, também trabalhou como fotógrafo durante muito tempo. Então a fotografia sempre foi algo muito presente em nossa família”, afirma Aptekmann. “Ainda assim, só me apropriei de sua história e de sua grandeza em 2002, quando, junto com meu avô resolvi ‘desenterrar’ os milhares de negativos que ele tinha em seu porão. Descobrimos um acervo riquíssimo, com muitos trabalhos ainda inéditos. Começou aí o meu trabalho de catalogação para tornar público esse material”, completa. Atualmente, a obra de Preising é representada pela Galeria Utópica.

Apesar de ainda pouco reconhecido pela história da fotografia nacional, Theodor Preising é um nome fundamental da iconografia paulistana. Em 2004, sete de suas fotografias foram integradas à 13ª edição da Coleção Pirelli/Masp de Fotografia.

Sobre o filme São Paulo – sinfonia da metrópole 

O documentário nacional realizado em 1929 por Rodolf Rex Lustig e Adalberto Kemeny apresenta a ideia de progresso e ordem social, construída cena a cena, a partir da combinação de mosaicos visuais de uma cidade em desenvolvimento, que tinha como espelho as principais capitais europeias. Os diretores tomaram como inspiração o filme alemão Berlim: sinfonia da metrópole, de 1927, de Walter Ruttmann.

Com montagens elaboradas, o filme mudo traz uma sequência de cenas do cotidiano, do começo ao fim do dia: crianças nas escolas, operários nas fábricas, trabalhadores nas ruas e policiais trabalhando pela segurança do trânsito e dos transeuntes.

Sobre o Curador

Rubens Fernandes Junior é pesquisador e curador independente de fotografia. Professor e Diretor da Faculdade de Comunicação da FAAP, é também Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

Ao longo de sua trajetória profissional, realizou curadorias de exposições fotográficas, individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. Recebeu o Prêmio de Melhor Exposição/Curadoria da APCA pelas mostras de Mario Cravo Neto, no MASP (1995), e de Geraldo de Barros, na Galeria Brito Cimino (2006). É ainda curador do Prêmio Wessel de Fotografia. Publicou vários livros e ensaios, entre os quais Papéis Efêmeros da Fotografia (Editora Tempo D’ Imagem, 2015); Fotografia em Revista (FAAP e Editora Abril, 2009); Geraldo de Barros - Fotoformas e Sobras (2006); Labirinto e Identidades - Fotografia Brasileira Contemporânea (2003), ambos pela Cosac Naify.

Sobre a Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp

Inaugurada em fevereiro de 2017, a Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp é gerenciada pelo SESI-SP. Com uma programação voltada para a difusão da produção fotográfica como expressão artística e cultural, o espaço traz quatro exposições anuais, que dão oportunidade a novos artistas e reverenciam o trabalho de profissionais já consagrados no mundo da fotografia.

Serviço:

Exposição São Paulo: Sinfonia de uma Metrópole 
Local: Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp (Av. Paulista, 1313 – em frente à estação Trianon Masp do Metrô)
Período: de 25 de janeiro a 25 de março de 2018
Horár
ios: de terça a sábado, das 10h às 22h; domingos, das 10h às 20h

Classificação indicativa: livre
Agendamentos escolares e de grupos: 3146-7439
Grátis. Mais informações em 
www.centroculturalfiesp.com.br

Última atualização em Sex, 22 de Dezembro de 2017 15:42  
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