Agruras de um vovô recem-nascido

  • Nos dias atuais, vocês não fazem idéia do quanto é difícil para um avô, ficar com sua netinha no colo, nem que seja por cinco minutos.
  • Esse avô chega em casa, do trabalho, sonhando em segurar a pequenina, dizer xoxoxô, golegolegole, passar o dedo no queixo, dizer pipipopó
    com voz fina e se deliciar com o sorriso dela. Mal estende os abraçose uma das circunstantes ordena: lavar as mãos, passar gel nas mãos,
    escovar os dentes, pentear os cabelos, tirar o casaco e lá vai o vovô,obediente, cumprir as determinações. Quando volta, ansioso, acircunstante mor, a mãe da menina, diz que agora não, ela vai mamar,agora não, ela acabou de mamar, agora não ela precisa arrotar, agora não ela vai regurgitar, agora não ela tá cocô, agora não porque agora não.
  • Após muita súplica, apelos pungentes e preces dolorosas, deposita a se no
    A circunstante sênior, a vovô, logo em seguida estende os braços sequiosos e, com um sorriso cativante, pede para pegar a nenê um pouquinho.
  • E, me respondam, como vai esse vovô dizer que não?
  • E, não sem pesar, deposita a Luiza nos braços da avó, restando-lhe a alegria de rodear a dupla, enternecido e abobadamente feliz em, pelo menos,
    admirar a cena. Enquanto isto a circunstante mor mantém seu rígido controle: levanta a cabeça, baixa a cabeça, inclina para cima, tapa as
    perninhas. E nós obedecemos.
  • O que as circunstantes não sabem é que este vovô quer apenas adorar a Luiza enquanto se embriaga com seu perfume de nenê.

Paulo Wainberg

 
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