Perdi minha mãe...e meu cachorro !

Perdi minha mãe..e meu cachorro.

Não. Não me julguem.

É claro que não é uma comparação.

Mas ambos foram amados. Ambos me deixaram no período de 3 meses de diferença. Exatamente 3 meses.90 dias.

Vou contar um pouco disso.

Depois que eu quase morri ( leia o desabado aqui  ) decidi não deixar mais nada me estressar. Nada. Me tornei meio que uma muralha de pedra. Medo de me tornar vulnerável de novo. Sempre tive um pavor imenso de perder meus pais. Quando era adolescente me recordo muito bem, escrevi em um diário que queria ter nascido órfã para nunca sentir a dor de perder meus pais. Claro, bobagens de quem está na imaturidade. Tive os pais mais maravilhosos deste mundo mas o medo de perde-los já era um alerta do que eu um dia poderia vir a sentir e não queria de maneira alguma sentir essa dor mas pela ordem natural das coisas seria inevitável.

Foi em um domingo. 20.30 hs. O telefone tocou. Eu estava na sala. Ouvi a voz do meu irmão.

- Clau, a mamãe se foi.

- aonde? Perguntei eu.

- A mamãe morreu.

(queria ter nascido órfã para nunca sentir a dor de perder meus pais, queria ter nascido órfã para nunca sentir a dor de perder meus pais, queria ter.....)

- ok.

- Você entendeu o que eu falei ? perguntou meu irmão que esperava um ataque de choro, histeria ou desespero como deveria ser normal em mim antes do meu colapso.

- entendi sim, respondi distante de mim mesma desligando o telefone.

Me aproximei do meu marido em outro canto da casa seguida pelo meu fiel cachorrinho, sentei ao lado dele e falei com um tom de voz de gelar a alma:

- minha mãe morreu

Ele segurou minha mão, me abraçou e falou : vou ligar para o Diego (meu filho que mora no Brasil)

Falei ok e me calei.

Nenhuma lágrima. Nada.

Em menos de 15 minutos meu filho chegou e certamente esperava me ver em prantos. Me olhou e ...nada. Somente um olhar vazio e neutro respondeu a ele que precisava dormir porque no dia seguinte de madrugada pegaria a estrada.

Fui muda até São Paulo. Não disse nada. Não chorei.

Voltei no dia seguinte e a vida seguiu. Voltei a gravar o programa na TV 4 dias depois.

.......

Três meses depois meu cachorrinho ficou bem doente. Muito doente mesmo.

Gastamos muito dinheiro e gastaria o triplo se fosse necessário mas o diagnostico foi unânime: eutanásia.

Dormi com ele aquela noite. Abracei, beijei. Conversei.

Ao acordarmos peguei ele no colo e ele confiante abanou o rabinho e assim o levei para a veterinária aonde sua vidinha chegaria ao final após 13 anos.

Enquanto ele tomava a injeção letal chorei muito. Como nunca chorei. Não me lembro de ter sentido tanta dor como naquele momento na minha vida. Pedi perdão a ele que ficou me lambendo até o último suspiro. Chorei. Chorei. Chorei. E assim acabou nossa história.

Fiquei reclusa em casa, de luto por semanas. A dor parecia me consumir.

Agora volto ao inicio.

Acredito que o fato de eu ter levado o meu cachorrinho para a morte me deu a noção de que SIM, era um final. As suas cinzas entregues em minhas mãos era um fechamento. Ele não mais voltaria para mim.

Agora com relação a minha mãe... bom.. eu converso com ela todos os dias. Todos. Sinto a presença dela ao meu lado constantemente. Simplesmente é como se ela não tivesse ido embora. Não sei se consigo me explicar mas é um amor tão imenso esse de mães e filhos que realmente não tem muita explicação. Transcende tudo que pode ser explicado.

Acho que para mim ela continua por aqui. Por isso não choro. Peço conselhos, ajuda, proteção a ela e sei que ela me ouve e me responde de alguma forma. Talvez seja por isso que dizem que mães não morrem jamais ou que mães só tem uma ou ainda que mães são eternas.

É difícil aceitar que ela se foi, claro que sinto saudades e muita mas prefiro acreditar que a qualquer hora de alguma forma estaremos juntas de novo dando risada, comendo besteiras e assistindo A grande família juntas.

Cada um encara a vida e a morte de um jeito. Cada um sabe o tamanho da sua dor.

Eu prefiro ficar imune a ela enquanto eu consigo.

Nem consigo imaginar o tamanho que ela poderia ser se eu permitisse que ela me dominasse.

Só sei que me lembro da frase...”eu queria ser órfã para não sentir a dor de perder os meus pais....eu queria ser...”

Não. Não me julguem.

 

Claudia Cozzella

 

 

 

                           

 

 

Última atualização em Sex, 04 de Maio de 2018 08:58  
Copyright © 2011 Acontece Curitiba. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por LinkWell.