Mas ele deu o mindinho, né?

Era um dia de paz. Aqueles quatro homens se reuniram para isso. Paz. “We are the world” ainda não havia sido composta, mas teria sido perfeita para os quatro ‘bons vivants’ assobiarem.
Era um dia de paz em 1938. Os quatro homens eram Neville (Primeiro-. Ministro do Reino Unido), Benito Mussolini, Adolf Hitler e um político francês cujo nome é dificílimo de escrever. Para efeitos de praticidade, retomemos a crônica no último save point:
Eram três homens. Neville, Benito e Hitler. Era um dia de paz e de metalinguagem em 1938. Conversaram cerca de uma hora e meia sobre o básico: o clima, os impostos, o fim do mundo, etc.
Os três saíram satisfeitos e bonachões do encontro, pois cada um deles havia conseguido o que queria. Benito conseguiu apoio para que as pessoas parassem de chama-lo de facista. Neville conseguiu um tabuleiro do War autografado pelos colegas. E Hitler, o controle efetivo de parte da Checoslováquia - desde que prometesse que seria, naturalmente, a última reivindicação territorial da Alemanha.
- Sieg Heil! Eu prometo! Risos.
Ao final do encontro, os três tiraram uma foto para a Revista Caras (os quatro, na verdade, pois nesse tipo de revista é só a imagem que importa).
Neville pegou um avião da Latam, voltou pra Inglaterra e foi recebido como um herói.
- Viva Neville! Hip, Hip, Hurrah!
Neville fez um discurso lindo. Chamou-o de “paz do nosso tempo”. Acenou com uma folha branca para a multidão. Épico.
Mais tarde, um amigo mais chegado fez uma pergunta estranha a Neville:
- Mas ele deu o mindinho, né?
Neville franziu o cenho. Como assim “deu o mindinho”?
- O mindinho – esclareceu o amigo. – Quando esse tal de Hitler prometeu que ia sossegar a periquita, ele cruzou o dedo mindinho com o seu?
O Primeiro-Ministro ficou pálido. Esquecera-se do mindinho. Habituara-se a usar o mindinho apenas para esticar quando levava uma xícara de chá à boca. Não para fazer um acordo! Não para selar a paz. Não para entrar pra história.
Um ano depois, a falta do mindinho trouxe sua resposta: Hitler ocupou Praga. Hitler não dera o mindinho, o que Neville estava pensando?
Então veio Winston Churchill. Um homem mais interessante, cujo único dedo que estava disposto a usar era o dedo do meio. Churchill amava o som da própria voz, ainda que às vezes não fizesse o menor sentido:
- Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns!
Pobre Neville. Ele realmente tentou.

Diego Gianni
(05/07/2018)

 
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