Capa da Glamour de setembro, Isabella Santoni conta as dificuldades que enfrentou no início da carreira e o seu novo estilo de vida

O ano é 2010 e o tema de sua festa de aniversário é... I <3 NI, com toda a identidade visual do famoso slogan de Nova York, mas, no caso, com as iniciais da cidade onde cresceu: Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. “Foi o máximo, todo mundo vestiu a camiseta I <3 NI e teve até um MC para comandar um baile funk na pista”, lembra. “Tenho o maior orgulho da minha origem. Venho de uma família pobre, mas nunca me faltou nada.” Corta para agosto de 2018. Bella pede uma água sem gelo em uma tabacaria (que pertence ao ator Thiago Lacerda) em um minishopping na Barra da Tijuca. No andar de baixo, em outro bar, seus colegas de elenco da novela global Orgulho e Paixão, que chega ao fim este mês, e na qual interpreta Charlotte, comemoram o aniversário de Vera Holtz. Algo impensável para a menina que até poucos anos atrás pegava mototáxi, metrô e dois ônibus para ir de casa ao curso de teatro em Laranjeiras? “Não! Foi para isso que foquei, estudei e fiz tantos sacrifícios”, diz, coberta de razão. Falar a real, persistir, consumir com consciência (Bella sempre ajudou em casa e, agora, está construindo um apartamento sustentável para a família), ter as redes sociais como parte natural da vida (ela dirige, estrela e produz ensaios específicos para o Instagram) e, sobretudo, não se culpar por não dar conta de tudo fazem da atriz uma legítima representante da geração Z. A True Gen, dos nascidos entre 1995 (ano de Bella) a 2010, acredita na verdade como ferramenta – e sem binarismo. “Tudo pode ser ou pode não ser. Até uma pessoa que age ‘errado’ numa situação tem os motivos dela. A verdade de cada um é muito particular.” Inclusive a sua, né, Bella? Mais sobre ela nos insights corajosos, sobre temas jogados pela Glamour.  Vai, garota!  

A HORA DA ESCOLHA “Se, no primeiro ano do Ensino Médio, começaram a perguntar o que eu queria fazer e eu já sabia, por que não começar na hora? Ou continuava na minha vidinha tranquila de Nova Iguaçu até os 18 anos, me formava na escola particular em que tinha bolsa [a mãe dela, Ana Cristina Ribeiro, é professora de inglês], ou mudava tudo e corria atrás sem esperar. Optei pela segunda alternativa. Mudei para a escola pública noturna para fazer teatro de manhã, acordei muito cedo, morei com um tio para ficar no Rio, mais perto do teatro, levei muito ‘não’ em testes. Foi um sacrifício enorme, mas valeu. Hoje agradeço minha mãe por ter me dado essa oportunidade de escolha tão nova.”

REVISÃO DE VALORES

“Quando comecei a estudar teatro tinha um pensamento muito ortodoxo, quadrado. Vinha de uma família tradicional, ia para a igreja católica todo domingo... Não entendia bem por que as pessoas eram homossexuais, recriminava quem bebia muito ou usava drogas. Freud fala que uma hora você ‘mata’ seus pais, né? Brinco com a minha mãe que, quando comecei a fazer teatro, eu os ‘matei’ e passei a ver o mundo pelos meus olhos [os pais de Bella nunca viveram juntos. Ela foi criada pela mãe, mas tem uma boa relação com o pai]. Minha mudança de postura refletiu também na minha mãe, que passou a se abrir e a me ouvir. Passei a alertá-la quando ela fazia comentários pequenos, daqueles que a gente não percebe. Tipo vermos um casal gay e ela falar: ‘Coitada da mãe deles’. E eu: ‘Coitada por quê?  Tenho pena de quem não pode ser o que quiser’.  Ela concorda e assim seguimos.”

REDES SOCIAIS

“Para mim, é natural e, ao mesmo tempo, pensado, já que tenho responsabilidade sobre o que eu falo.  A Malhação, que foi o meu primeiro trabalho na TV [ela interpretou a protagonista Karina, em 2014], trouxe um público que cresce junto comigo. Meninas que estavam na escola e hoje são mulheres cursando faculdade. Então penso o que vou falar e como vou falar. Ultimamente tenho feito uns ensaios meus exclusivos para o Instagram. Escolho tema, fotógrafo, make. Uma amiga me ajuda no styling. Minhas redes sociais são a minha plataforma: onde controlo o que é falado e feito sobre mim e como quero me posicionar em relação aos assuntos. Quando viajei para Bali no ano passado, por exemplo, fiz trancinhas no cabelo e recebi críticas de apropriação cultural. Em momento algum pensei que estava ofendendo alguém e não soube reagir na hora. Hoje pediria desculpas às pessoas que se sentiram ofendidas. Mas na hora, não deu, não sabia.  E tudo bem. Busco a resposta transparente sempre.”

FAMA & ANONIMATO

“Cara, nunca pensei nisso. Ser famosa não era uma vontade. Em Malhação eu era uma menina vivendo um sonho e, quando me dei conta, tinha milhões de seguidores nas redes. No meu dia a dia, a ficha caiu mesmo quando fui a uma festa de rua em Nova Iguaçu, a Festa do Aipim. Não consegui passar do estacionamento. Veio uma multidão, ninguém andava, chamaram os seguranças... Na hora fiquei meio assustada. Eu era a mesma pessoa indo ao lugar que sempre ia. Não entendia a necessidade das pessoas de me tocarem e tirarem fotos.”

AMOR SEM RÓTULOS

“Quando comecei a ficar com Caio [Vaz, o surfista com quem está há dez meses] e nem eu sabia se estava namorando, as notícias já começaram a rolar. Aí, entra o aprender a lidar com a verdade. Quando um jornalista me perguntou sobre isso, respondi que também não sabia e que beijar uma pessoa não significa, necessariamente, estar namorando. Por que essa necessidade de rotular todos os relacionamentos? O que é namorar? É dar bom-dia e boa-noite?  É ficar só com a mesma pessoa? A gente está feliz, e estar feliz é o que importa.”

 
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