É estranho, mas foi o que ele pediu no balcão daquela farmácia.
- Você tem algum remédio para desapaixonar?
- Como?
- Desapaixonar.
- Não entendo.
- É muito simples. Estou apaixonado, mas não quero mais estar. Tem algum remédio pra isso?
A farmacêutica chegou a pensar se ele estava brincando, mas não estava. Ele parecia estar sofrendo. De verdade.
- Bom...nós temos calmantes. Vários tipos de calmante. Você está com problemas pra dormir?
- Não, pelo contrário. Meu problema é sonhar demais. Sonho até acordado. O que eu preciso é arrancar de mim esta sensação de estar apaixonado.
- Mas...não existe remédio pra isso. Só o tempo.
- E vocês vendem o tempo em pílulas?
Ela riu, mas logo se arrependeu. Ele parecia muito angustiado.
- Desculpe, moço...mas do tempo a vida já nos serve, em doses diárias. Pra isso não há remédio também. Tem que esperar passar.
- Não posso. Não posso mais. Já passei do meu limite. Estou ficando egoísta.
- Egoísta?
- Sim. Sabe a sensação de abraçar uma pessoa e desejar que ela seja apenas sua? Pra sempre?
- Sei. Entendo bem.
- E se você soubesse que essa pessoa nunca vai ser sua?
- É horrível. Mas todo mundo passa por isso.
- Mas eu não quero saber de todo mundo. Já disse, estou ficando egoísta. Quero saber de mim. Quero voltar a ter paz. Esquecer que um dia eu já a conheci.
- Eu...eu sinto muito, mas você não vai encontrar o que procura aqui.
Ele abaixou os olhos, triste. A farmacêutica, a esta altura, já havia simpatizado com ele e com o sofrimento dele.
- Quem não gostaria de um remédio para desapaixonite? – sorriu ela, com empatia. – Eu teria uma caixa sempre guardada. A sete chaves.
- Não é justo. Tenho todo o amor do mundo no meu coração, e é ali que ele vai ficar. Preso. E as coisas só vão piorar. Vou ficar amargurado, porque a vida não é como no cinema.
- Tem certeza que um calmante não pode te ajudar? – sugeriu, sem jeito.
- De que adianta? Amanhã eu acordo, e tudo continua igual. Vou encontrar ela a noite beijar seu rosto, tão perto dos lábios e tão longe de como as coisas deveriam ser.
- Entendo.
- E o pior é que eu já me desapaixonei por ela, mas voltei a me apaixonar. Meus sentimentos brincam de gangorra. Meus sentimentos também são egoístas.
Uma fila começava a se formar, a farmacêutica não podia continuar dando atenção para o rapaz desiludido, por mais que tivesse vontade.
- A recaída é muito pior. Todo mundo sabe disso. – lamentou ele.
- Sinto muito, moço. Você vai ter que se arranjar com o tempo.
- Obrigado mesmo assim.
Meses depois, por acaso ou talvez não, a farmacêutica encontrou o rapaz na rua.
- Lembra de mim?
- A moça da farmácia.
- Eu mesma.
- Olha...me desculpa pro aquele dia...você deve ter me achado maluco.
- Achei. Mas te achei muito fofo, também.
Sorriram um para o outro.
- Conseguiu se desapaixonar? – perguntou ela, muito interessada.
- Consegui, e estava indo muito bem...até agora.
Ela riu, e ele a convidou para dar uma volta. Era uma segunda feira. Era uma segunda chance.
É que ás vezes a felicidade apenas muda de endereço.
Diego Gianni
(01/03/2010)