Ocorreu-me, pouco antes de desistir de dormir, que o corpo humano rejeita tudo o que vem de fora. Estou falando de tudo mesmo, sem exceções. Tudo que ingressa no nosso corpo, seja pelo buraco que for, é rejeitado e expelido, cedo ou tarde.
Se o corpo não fizer isto, adoece e morre. Não estou me referindo à substituições e reposições, caso dos transplantes, soro e sangue.
Ainda assim, para serem admitidos, a ciência teve que providenciar um bocado. Bebemos água e suamos e urinamos.
Comemos e defecamos.
Respiramos e expelimos o ar respirado imediatamente.
Para micróbios, virus, bactérias e mil outros objetos, a porta da rua é a serventia da casa, inclusive o esparmatozóide vencedor que fecunda o óvulo e é expulso em forma de bebê, o que é um poema a valer. Espinhas, cravos, furúnculos, abscessos são também expedientes utilizados pelo corpo para se livrar dos indesejáveis.
Calculo que deve ser extenuante para o corpo essa lida constante de jogar para fora tudo o que de fora vem, garantindo ao máximo os originais. Vai ver, então, que é por isto que envelhecemos, não há quem aguente ficar jovem, esbelto e com os cabelos da cor original, se permanentemente alguma coisa está invadindo o pobre.
Agregue os efeitos da gravidade e o passar do tempo propriamente dito e, eis aí, decifrado o mistério do envelhecimento.
Se eliminarmos esses três fatores, temos muito mais probabilidade de ficarmos sempre jovens e, quem sabe, para sempre.
Paulo Wainberg