Assassinos de Paulo Wainberg

Tenho pensado muito nessas ações enlouquecidas de atiradores aparentemente sem causa, que entram em escolas, cinemas, shoppings e quaisquer outros lugares públicos e disparam aleatoriamente, matando sem saber quem e tantos quantos puder.

Alguns fazem isto e em seguida se matam. Outros simplesmente se entregam e vão se defender na justiça.

Não consigo evitar uma relação com ditadores, homens que, no Poder, mandam matar os inimigos, não importa quem sejam. Seus soldados, sob o eufemismo clássico de cumprir ordens e servir à Pátria, invadem e matam, sem conhecer as vítimas, o que elas fazem e porque estão sendo mortas.

O que me leva à guerra, o morticínio consentido e organizado em que, por exemplo, dois amigos íntimos se aniquilam devido à farda que usam, bombas são atiradas sobre populações e, depois, celebrada a paz, os envolvidos lamentam oficialmente as atrocidades, não raro punindo seus generais, quase sempre os generais vencidos.

O que me faz pensar nos terroristas, que sob o manto de uma causa política, matam sem saber a quem, explodem locais públicos e, normalmente, morrem junto, auto-justificados por um ‘ideal’.

Não vejo diferença entre estas ações, acredito que elas simbolizam exatamente a mesma coisa: O ódio sem controle.

Neste último episódio, no Colorado, o assassino certamente estava atacando alguém ou alguma coisa que o ameaçava, mesmo que a ameaça fosse apenas um delírio esquizofrênico. A seu modo, ele agiu em nome de um ideal, considerando que a inexistência de um, não deixa de ser um ideal.

Sua defesa vai alegar insanidade momentânea ou doença mental, que tornou o rapaz incapaz de compreender a natureza criminosa do seu ato.

Não acredito nisto. Mesmo o mais perturbado e alienado dos criminosos sabe exatamente o que está fazendo, na hora que faz, e sabe também quais são as consequências que decorrem do que está fazendo.

Pinochet, um dos mais sanguinários ditadores da histórias, ordenou a morte de mais de dez mil pessoas, confinadas no Estádio Nacional de Santiago, ali presos como inimigos do Estado, quando essas pessoas eram, na verdade, inimigas da ditadura. Justificou-se por décadas e amealhou uma fortuna absurda que o seu soldo de General jamais atingiria.

A primavera árabe revelou ditaduras cruéis, discricionárias, homicidas que os povos árabes ainda não conseguiram superar.

A quantidade de mortos na Síria e no Iraque são superlativas perto da tragédia do Colorado, mas a comunidade internacional compreende aquilo e se espanta com isto.

Acredito que, seja qual for a circunstância, a causa da violência é o ódio, um dos mais poderosos sentimentos humanos que exige um constante esforço individual para ser controlado.

Sádicos e masoquistas não são irracionais.

Assassinos, ditadores, terroristas, homicidas de trânsito, criminosos de guerra, traficantes de drogas e estupradores, não são irracionais.

Indivíduos não são irracionais, o povo costuma ser. Cada assistente de uma execução pública acha aquilo um horror, mas a massa se reúne, furiosa e excitada, para assistir o espetáculo.

Tais coisas afetam tanto o nosso dia a dia que chegará o tempo em que saudaremos viver um dia do jeito que der.

 
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