Marcha,sou dado

Foi um verdadeiro auê.

Alguns dizem que tudo aconteceu na Avenida Paulista. Outros mais ao sul, numa das Viscondes Guarapuavas da vida.

Mas pouco importa donde, importa é quem.

Era coisa assim de cinco da tarde quando na esquina da avenida cruzaram duas marchas organizadas, a marcha da maconha e a marcha do orgulho gay.

Os mais apressados leitores desta humilde crônica que não reivindica marcha alguma poderiam supor que o caos se instalou ali mesmo, no encontro inusitado desses dois movimentos.

Mas não.

Os maconheiros estavam curtindo uma onda e acharam o maior barato cruzarem com aquela gente toda colorida. E riam, riam, riam...

Já os gays e simpatizantes acharam alguns dos maconheiros mó gatinhos, saca? Um arraso.

O treco todo pipocou e ficou uó quando uma terceira marcha veio ao encontro das duas primeiras: a marcha pra Jesus.

Porque gay e maconheiro não tem vez no céu, sabe?

E a discussão começou a todo vapor: era um tal de gay e cristão se amaldiçoando com os maconheiros ao fundo dizendo: “pô, cês tão estragando a curtição com este climão, tipo assim, nada a ver.”.

E riam, riam...

Quem acredita em diabo poderia até dizer que ele, não contente com a animosidade recém criada com três marchas tão distintas, lançou ao encontro das três umazita a mais...

Era a marcha da consciência negra reivindicando para que aquela propaganda racista de sabão em pó parasse imediatamente de falar: “ah, se todo branco fosse assim!”.

Cabe dizer que ali houve uma separação. Alguns negros homossexuais juntaram-se aos gays, bem como negros cristãos deslocaram-se para a marcha pra Jesus e daí os maconheiros não sabiam mais onde estavam.

Nem era noite ainda quando a marcha dos compulsivos por sexo abriu alas na avenida. Tentaram comer todo mundo, independente de raça, credo, opção sexual ou o que fosse.

Mas ainda não era a última gota, apenas cinco das sete trombetas do apocalipse haviam soado.

Eis que surgiu a marcha das vadias. A marcha dos compulsivos por sexo partiu com tudo para cima, pois supostamente haviam interpretado de forma errônea o que significava a marcha das vadias.

O sangue jorrou por toda a avenida. Era soco na cara pra cá, pontapé pra lá e mão na bunda acolá.

E toda a confusão não bastou para acirrar os ânimos da marcha das pessoas que sofrem de agorafobia (medo de multidão). Cerca de trezentas pessoas com agorafobia marcharam juntas, proclamando com orgulho sua aversão a multidões! E daí...

Bom, imaginem trezentas pessoas com ataques súbitos de pânico distribuindo pancada pra tudo quanto é lado.

Ninguém mais sabia qual marcha era qual e a qual pertencia quem. A palhaçada era tanta que parte do mar de gente se juntou e iniciou (ali mesmo, de improviso!) a “marcha contra as marchas”, uma marcha brilhante reivindicando o término das marchas!

 

- Chega de marchas! Chega de marchas! – gritavam.

 

Tudo isso estava sendo transmitido ao vivo por todas as emissoras e também pela internet. Simultaneamente a tudo, noventa comunidades orkutivas foram criadas com tópicos relacionados a balburdia das marchas.

Milhões de pessoas fazendo comentários sarcásticos a lá face book e clicando em “curti isso”.

Camelôs confeccionavam as pressas camisetas com os dizeres:

 

“Balbúrdia das marchas – EU FUI”.

 

Assistindo a tudo pela TV, Chico Buarque pegou seu violão e entoou: “estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a marcha passar...”.

 

Ninguém sabe ao certo como a coisa terminou. Mas terminou, porque tudo termina.

O saldo da tragédia era digno de cheque especial.

E no dia seguinte, como só poderia ser, veio à marcha para a paz.

Centenas de pessoas com camisas brancas clamando pela paz no mundo. Cartazes com fotos sangrentas do massacre da marcha da balbúrdia e a legenda:

 

- para que nunca esqueçamos –

Um dos cabeças da marcha da paz organizou para que fossem soltas duzentas pombas brancas durante a passeata.

Alguém denunciou que estavam maltratando as pombas. E veio marcha em defesa dos animais e...

Enfim.

A humanidade realmente acredita que o fim do mundo virá na forma de um meteoro ao som das trombetas.

Bobagem.

Virá na forma humana. Ao som de nós mesmos.

 

 

Diego Gianni

(21/07/2011)

 
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