o PUM !!

Paulino sempre teve uma visão romanceada das mulheres. Até mesmo a mais fútil ou sem predicados delas era de imediato colocada em um pedestal pela sua mente sem noção de como a vida é.

 

Enfim, um homem a antiga. E quando começou de caso (ele preferia chamar de flerte) com Aurora, não foi diferente. Mandava flores, abria a porta do carro para ela e tudo mais que uma dama merece.

E tudo, é claro, tinha que ser especial. O primeiro olhar, o primeiro encontro, o primeiro pegar de mãos, o primeiro tudo. E nesta noite, quando fosse se despedir dela dentro do carro, ele iria a beijar. E o beijo tinha que ser muito especial.

Ligou o aparelho de som do carro com uma música suave já premeditada e chegou mais perto dela. Era a hora.

Os lábios se tocaram, o momento era mágico. Foi então que aconteceu algo que iria mudar a vida deles para sempre.

Aurora soltara um pum.

O mais traiçoeiro de todos, aquele que não faz barulho. Não há pum mais covarde.

Eles se olharam constrangidos. Ela sabia que não tinha como negar. Num ato vão de cavalheirismo, Paulino ainda tentou assumir a culpa:

-         Desculpe...

-         Você sabe que não foi você. – sussurrou ela sem conseguir olhar nos olhos dele.

Só voltaram a se encontrar por muita insistência...dela. Por ele, tudo tinha acabado naquela triste baforada. Não tinha por que insistir numa relação onde ele sempre se lembraria do primeiro beijo unido ao primeiro pum.

Acabaram se casando, o amor falou mais forte que o passado... manchado. Nunca mais falaram sobre o incidente horrível acontecido no carro naquele triste dia de setembro, mas era como se o pum ainda vivesse entre eles, dividindo a mesma cama, os mesmos lençóis! Aurora temia pelo dia em que ele jogaria isso na cara dela. Quanto a ele, a única coisa que realmente o entristecia era conviver com a lembrança de um primeiro beijo com gosto de pum.

A carne é fraca. Um dia, indo contra todos os seus princípios, Paulino traiu Aurora. Não por paixão ou desejo carnal, mas por viver a sensação de beijar uma mulher pela primeira vez e só ter motivo para se alegrar.

Mas mentiras e anões tem pernas curtas. Logo Aurora ficou sabendo. Traição era imperdoável, e jogou isso na cara de Paulino:

-         Como você pôde me trair? – enfureceu-se ela.

-         Como você pôde soltar um pum no nosso primeiro beijo?

Olharam-se em silêncio. Agora estavam quites. O pum pela traição. Que de em diante, tratassem de ser felizes.

E não se tocou mais no assunto.

 

Diego Gianni

 
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