É mais um dia em Curitiba


Abre a porta três do ônibus, entra em cena o “tio das latinhas”, torpe definição dada pelos adolescentes sentados no banco à minha frente. Eles riem, caçoam do andar manco do mendigo que desfila pelo corredor do transporte lotado, revirando
e fuçando as latas de lixo em busca das latinhas que valerão centavos.
Da porta quatro, entra uma senhora de idade indefinida (mais senhora que madura), os cabelos tingidos grotescamente, olhos pesados e cansados, a alma triste. Ninguém oferece o lugar. Fico “meio assim”, não sei se ela se considera idosa, desconheço se a rotina abre brecha pra vaidade, mas levanto e cedo meu assento, gentilmente. Não há aplausos. Também estava mais do que esgotado de cansaço, fim de tarde, pós dia de mais um dia de muito trabalho e pouco patrimônio, mas sempre escuto a voz de meu avô a murmurar: “seja educado, seja educado”, e é o que sou, e é como ajo, mas não há aplausos no cotidiano. Não há.
No banco em frente, os jovens de uma geração que não mais pertenço ainda troçam do tio das latinhas.
É mais um dia em Curitiba.

(Diego Gianni)
Última atualização em Sex, 17 de Agosto de 2012 09:58  
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