Peculiaridades na forma de escrever podem determinar traços da personalidade da pessoa. Difundida há seis séculos, a grafologia está sendo adotada por empresas na admissão de profissionais. Estudiosos do assunto garantem que a análise da escrita fornece informações sobre o temperamento humano, como inteligência, habilidades, aptidões, liderança, iniciativa, potencial, tomada de decisão, caráter entre outros. O perfil grafológico definido pela letra, aliado a outras ferramentas como entrevistas, testes de competência e dinâmicas de grupos, tem sido considerado fator importante para a contratação de pessoal.

Há dois anos, a Rede de Farmácias Nissei decidiu contratar funcionários levando em conta também o perfil determinado pela caligrafia. De acordo com Aline Nascimento, gerente de recursos humanos da empresa, a Nissei decidiu adotar a técnica para seleção de funcionários como parte de um conjunto de ferramentas de avaliação, que identifica as competências e experiências do candidato e a adequação dele para a função para a qual está concorrendo.

Como qualquer outro método usado para seleção de funcionários, Aline explica que a grafologia analisa aquilo que os candidatos viveram ou aprenderam durante suas experiências profissionais, as habilidades que desenvolveram, os conhecimentos obtidos e como irão agregar tudo isso ao cargo. "Não se trata de uma avaliação de resultados, tampouco existem respostas certas ou erradas", ressalta.

Aline garante que a análise grafológica não aprova ou contra indica nenhum candidato. "Como qualquer outro teste de personalidade, não existem respostas certas ou erradas - o que analisamos é o candidato e suas competências para a função e se ele se adéqua às atividades que irá exercer dentro do ambiente e da cultura da empresa".

Avaliação

A psicóloga Carla Tatiana Poy, responsável pela avaliação grafológica de candidatos a uma vaga na Nissei, também concorda que o perfil definido pela letra não é decisivo na contratação. "A grafologia permite identificar traços da personalidade de uma pessoa. São analisadas características muito peculiares da letra", observa. "E faz parte de um conjunto de etapas do processo seletivo", afirma, destacando que o resultado soma-se a outros obtidos por meio de entrevista por competência e demais testes de personalidade aplicados pela empresa.

Para trabalhar na Nissei, além da análise grafológica feita por meio de uma redação escrita à mão, o candidato passa por uma entrevista por competência, além de testes de personalidade como o IFP (Inventário Fatorial de Personalidade), a BFP (Bateria Fatorial de Personalidade), a CPS (Escala de Personalidade de Comrey) e o TLS (Teste de Liderança Situacional), que analisa estilo de liderança.

Segundo Carla, existe um parâmetro que é comum entre os estudiosos e praticantes da grafologia. "Os grafólogos não consideram, por exemplo, o fato de a letra ser bonita ou feia ou o do autor ser destro ou canhoto. O estudo concentra-se exclusivamente na caligrafia", explica. No entanto, ela esclarece que questões como a direção do texto, inclinação, tamanho e espaçamento de letras e linhas são aspectos de grande relevância na análise.

Assim, os especialistas garantem que nem sempre uma letra bonita é sinônimo de personalidade harmônica e bem resolvida. "Por outro lado, a caligrafia ilegível demonstra com certeza que a pessoa tem dificuldades de se comunicar com os outros", afirma Carla. Segundo ela, a falta de acentuação e pontuação corretas caracteriza uma personalidade negligente.

O que os traços dizem

Apesar de não ser determinante na admissão de funcionários, a avaliação grafológica define traços de personalidade que, dependendo do cargo a ser preenchido, são considerados importantes. Cada pessoa tem sua maneira característica de escrever. E essas peculiaridades da letra são avaliadas pelo grafólogo.

Uma letra bastante significativa na avaliação e com grau elevado de personalização é o "t". Por exemplo, quando o corte da letra é feito só do lado direito, o grafólogo está perante uma pessoa muito emotiva. Um corte do "t" com inclinação para cima denota pessoas muito preocupadas com o aspecto profissional. São ambiciosas e positivas. Já um corte do "t" que se inclina para baixo denota pessoas ambiciosas, mas que possuem um nível de sensibilidade acentuado. Um corte do "t" acima da própria letra sugere pessoas sonhadoras que tendem a buscar objetivos quase impossíveis. Obstinadas e determinadas, quase sempre alcançam tudo o que desejam.

O espaçamento também é importante na análise. Falta de espaço entre as letras demonstra uma pessoa com um raciocínio predominantemente lógico e racional e de pensamento rápido. Ao contrário, quem faz um espaçamento grande entre as letras tem tendência a ser uma pessoa insegura, pouco confiante. Já o espaçamento entre palavras, quando muito grande, indica necessidade de liberdade e valorização de autonomia na realização do trabalho. Pessoas que praticamente não deixam espaços entre palavras gostam de estar acompanhadas.

A forma da letra normalmente está associada ao cuidado que as pessoas imprimem às atividades a que se dedicam ou sobre a forma como reagem aos estímulos que recebem. Uma letra redonda é um sinal de cuidado, atenção e precisão, amabilidade e generosidade. As letras muito angulares demonstram, por seu lado, autodisciplina, rigidez, e pensamento analítico. Letras abertas, incompletas, denunciam uma pessoa que fala muito, e que pode ter dificuldade em manter sigilo sobre determinadas questões.

A direção que o texto assume, mais inclinado para a esquerda ou para a direita, por exemplo, pode dizer muito sobre a forma como uma pessoa lida com as emoções. A inclinação para a esquerda vem normalmente associada à timidez, retraimento, ou a uma pessoa muito ligada às emoções, resistente à mudança, por ser muito apegada ao passado. Em sentido oposto, uma inclinação para a direita está ligada à extroversão, equilíbrio entre a emoção e a razão, expressividade, orientação para o futuro e sociabilidade. A escrita perpendicular (sem inclinação) normalmente identifica personalidades equilibradas e bastante objetivas.

Se, ao escrever sobre uma "linha imaginária", a pessoa consegue manter uma linha reta é, possivelmente, sinal de uma personalidade rígida e exigente. Se a linha for descendente, será um indicador de algum cansaço ou pessimismo. Linhas em sentido ascendente apontam para muita energia, otimismo e ambição.

O pingo no "i" também tem destaque na avaliação do grafólogo: quando colocado próximo da letra demonstra que a pessoa tem atenção ao detalhe; em cima do traço significa que é mais atenta a uns detalhes que a outros; sem ponto, significa que dá pouca atenção aos detalhes, que pode ser descuidado ou esquecido.

A letra "m" também tem conotação acentuada na análise grafológica. Se a segunda curva do "m" é tão alta como a primeira, a pessoa não tem grandes preocupações com a forma como é vista pelos outros. Se a segunda curva é mais alta que a primeira, preocupa-se com o que os outros pensam e não quer ter nenhum comportamento criticável. Se a segunda curva é mais baixa que a primeira, indica diplomacia.

O tamanho da letra também sugere traços da personalidade. Quando altas, indicam uma pessoa determinada; baixas, mostram sonhadores e tímidos, que tendem à falta de praticidade; as grandes demonstram egocentrismo e a necessidade constante de atenção; as médias, pessoas mais equilibradas, e as pequenas sugerem pessoas mais racionais.

O grafólogo

Apesar de não ser uma profissão reconhecida no País, para atuar como grafólogo é necessário passar por cursos de capacitação, oferecidos por vários institutos de estudos, e obter o registro junto à Sociedade Brasileira de Grafologia - SOBRAG. Interessante para quem deseja se aprofundar na ciência da grafologia é se formar em Psicologia. Existem universidades que aplicam o curso como extensão da graduação em psicologia. Mas ser psicólogo não é requisito obrigatório. São três cursos que o interessado deve frequentar para se tornar um consultor em grafologia: proficiência, avançado e básico. Já para ser grafólogo, é necessária a formação em um curso de um ano. Todos os cursos devem ser reconhecidos pela SOBRAG. A entidade tem se empenhado na regulamentação da profissão no País.