Brincadeiras à parte esses dias tive a oportunidade de ouvir mesmo o coração. Explico: minha casa em Sevilla é tão silenciosa, tão silenciosa, tão silenciosa de noite, principalmente, que quando vou dormir consigo escutar as batidas do meu coração. Assim, dentro do ouvido.

Esses dias (eu não tinha bebido!!!) me incomodei com um som repetido. Odeio sons repetidos, do tipo: tic-tac, tic-tac ou tum-tum-tum-tum e, na hora de dormir, então, esse tipo de som me deixa louca.

Bom, enfim, depois de fazer uma busca por possibilidades e me movimentar pelo quarto procurando o que podia ser (coisa de gente sozinha mesmo) saquei que era o dito cujo. Dentro de mim. E aí deitei e fiquei prestando atenção nas batidas dele. Acho que a última vez que senti/ouvi assim o meu coração foi quando eu tentei entrar para a galera saúde que saía correndo por aí. Naquele dia não só o ouvi batendo, mas gritando, se movimentando e querendo sair pela boca. A revolta dele foi tão grande que prometi que nunca mais iria fazer isso com ele. Ficou puto comigo e com a corrida que dei...

Aí estou eu tentando dormir e ouvindo o tum-tum-tum-tum dele. E me veio um pensamento horrível: bah! Para acabar com esse som constante eu teria que morrer!! E fiquei com dó do coração. Porque assim: a gente vai dormir, a gente vai dançar, a gente está estudando, a gente tenta fazer exercício, banho, compras, ele está lá, batendo, sempre. Não é fabuloso isso? Bate o tempo inteiro! Sem parar um segundo para descansar!

E a gente, por qualquer coisinha na vida já está desistindo dos projetos, parando para descansar, dando um tempo das coisas... Como somos nada perto do coração. Talvez ele saiba a importância dele. Por isso não pára nunca. E talvez por isso as pessoas digam para a gente ouvir o coração. Para aprender que devemos seguir em frente. Sempre.