Eu queria que se lembrasse de mim

  • Sempre mantive uma distância cautelosa do espiritismo. Consequência da minha infância, acho. Minha mãe era casada com um homem (pai do meu irmão querido) que era espírita. Nem sei se ainda é, imagino que sim. Espíritas geralmente morrem espíritas.
  • Mas não era ele um homem com boa energia. Frequentávamos o Centro Espírita. Minha mãe, católica não praticante, se acostumou a ir junto. Crianças, meu irmão e eu éramos levados.
  • Eu não tinha nenhum medo de frequentar o lugar. Medo do que eu teria? Crianças não sabem nada sobre espíritos ou a morte, a não ser que os vejam.
  • Lembro de pessoas boas no Centro. E de uma pequena sala onde elas se reuniam em fila e davam os “passes” para os necessitados, o que significava apenas emitirem energias boas (oriundas também dos bons espíritos presentes) para quem estava carregado de negatividade, algo que poderia estar vindo da própria pessoa (explicação racional) ou dos espíritos ruins (explicação sobrenatural).
  • Víamos coisas estranhas acontecerem em casa. Mas eu era criança, então prefiro não entrar em detalhes.
  • Digo tudo isso porque, apesar de ser agnóstico (ou justamente por causa disso) tenho grande prazer em estudar escritos de diferentes religiões e doutrinas. Já li a bíblia. Li trechos do Alcorão. Li textos soltos do budismo...
  • Mas nunca havia lido um texto psicografado. E terminei agora o “Violetas na janela”, do espírito Patrícia (psicografado pela própria tia Vera). Acreditar na psicografia é acreditar que um espírito ditou o livro, já é questão de fé e nem vou entrar nessa questão. Não tenho essa crença.
  • Falarei do livro: é triste, mas sem ser triste. É sobre uma jovem de 19 anos (Patrícia) que desencarnou (espíritas e espíritos evitam a palavra “morrer”) e descreve como foi despertar para a continuação da vida. Os bons espíritos geralmente acordam diretamente no que eles chamam de “colônias”, isto é, lugares onde ficam os bons espíritos, aqueles que seguem em constante evolução. Mas nem todos: há os espíritos “acomodados”, que não são necessariamente ruins. Há os ruins, é claro, que vagam pela Terra e pelo “umbral” que é um purgatório. Não há condenação eterna e o umbral pode vir a ser apenas uma transição para as colônias, mais especificamente para os hospitais das colônias (onde ficam alojados os espíritos que buscam por ajuda).
  • Não digo que gostei de tudo o que li nessa triste/bela história. É preciso crer para se entregar de corpo e alma (sem trocadilho) a um livro psicografado. O que realmente gostei (e invejo) é a certeza que alguns espíritas (chamados de "encarnados") tem da continuação da vida, e sendo assim, não há porque sofrer com a morte. Mesmo quando morre (desencarna) alguém jovem como a Patrícia. Pois os espíritas sabem que, quando os vivos sofrem, os "mortos" sofrem e se sentem presos. Então, em vez de chorarem diante de um túmulo e deixarem ali um punhado de flores que logo irão secar como os corpos (as "matérias"), enviam bons pensamentos aos espíritos, dizendo "nós estamos bem, apenas com saudades. Seja feliz".
    No caso de Patrícia, a casa em que ela ficou hospedada no "céu" (lá na colônia) tinha sempre na janela vasos de violeta idênticos aos que a mãe pôs na janela de casa após a morte da jovem - como tributo a ela. Era o modo da mãe sempre se lembrar da filha: olhando para algo vivo. É como eu gostaria que se lembrassem de mim um dia.

 

Diego Gianni

Última atualização em Dom, 16 de Fevereiro de 2014 17:00  
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