Todo mundo já sabe que sou apaixonada pela Era Hippie....talvez por ter vivido um pouco deste tempo que para mim foi bem mágico.
O fato é que tem coisas no ar....um retorno destes tempos?
Fomos conversar com Alexandre Osiecki sobre o evento Psicodélia que aconteceu justamente na Fazenda de uma grande amiga nossa,Denise Turek,em Rio Negrinho.
Vamos saber mais sobre o assunto nesta entrevista exclusiva cedida ao nosso Acontece Curitiba e RIC Mais?
Claudia Cozzella
Acontece Curitiba: O que significa exatamente ser psicodélico?
Olha, a psicodelia é um termo utilizado para descrever certas visões e sensações causadas por algum tipo de alterador de consciência, seja ele qual for. O ser humano se utiliza de inúmeros alteradores, a musica, as artes, a adrenalina, o álcool são alguns exemplos.
Acontece Curitiba: Qual o verdadeiro sentido do Psicodália?
Uma vez um guardador de carros, em Curitiba, leu o nome Psicodália escrito na lateral do meu carro, e comentou que havia achado bonito o nome, e perguntou se o termo significava "a psicologia da natureza", eu achei bem interessante o ponto de vista dele, e olhando por esse prisma posso concordar, sim o Psicodália pode ser uma psicologia da natureza, vendo a alegria e amor que as pessoas desenvolvem nessa experiencia, podemos facilmente concordar com o singelo e muito sábio guardador de carros.
O movimento surgiu de uma necessidade de espaço pra expor trabalhos artísticos autorais em Curitiba, mas a muito tempo o festival deixou de ser apenas um palco pra bandas de som próprio,o publico presente, cada vez mais participativo, sempre trouxe algo a mais; pessoas com conteúdo ideológico; pessoas com muitas perguntas sobre o mundo, e com boas respostas sobre si mesmas, ou o contrario, não sei bem ao certo... Não pretendemos ditar mudanças nas pessoas, sempre oferecemos opções; servimos produtos industrializados que geram mais lixo, ou produtos mais artesanais, que custam um pouco mais mas geram menos resíduos, deixamos pra cada um a escolha do que fazer, do que consumir. Buscamos com o Psicodália, promover esse encontro de culturas e proporcionar através dele, descobertas de um mundo possível, de amor, de saúde e evolução.
Acontece Curitiba: Há muitas razões para uma geração sentir nostalgia de algo que não necessariamente experimentou. Qual a raiz da nostalgia em relação aos hippies?
Em primeiro lugar, não somos hippies, nem neohippies, nem hippsters ou sei lá oque, somos pessoas normais, com família, e profissão, casa e contas pra pagar, só que de cabelo comprido e barba. Somos pessoas que gostam da proximidade com a natureza, que gostam de ser bem tratados e de fazer a diferença num mundo quase caduco.
Não considero que o sentimento seja de nostalgia, acredito que as pessoas que participam do movimento, vivem isso tudo com total autenticidade. Essas pessoas estão realmente ali, presentes, vivendo o momento, ou pelo menos buscando isso.
Acontece Curitiba: Em teoria, seriam os “hippies” de hoje mais ou menos politizados?
Não gostaria de rotular dessa forma, vivemos num momento de síntese da humanidade, onde podemos misturar tudo de bom oque vier ao nosso encontro, essa liberdade pode ser confundida com outros movimentos, mas não deveria; mas isso fica a cargo de cada observador da historia toda.
O fato de muitas pessoas participantes do movimento usarem cabelos compridos, batas, saias floridas, poderia remeter a outros grupos, de gerações e epocas diferentes à dos hippies, poderiam nos chamar de ciganos pelos cabelos e barba, ou de indianos pelas saias. Resumindo, somos uma mistura de culturas.
Acontece Curitiba: Para você, qual seria o Vietnã de hoje para os hippies globalizados? Sobre o que mais se protesta? A humanidade piorou ou melhorou?
Os jovens da nossa epoca tem tantas situações pra reclamar, que não sabem nem por onde começar. Além de problemas pessoais, do cotidiano, das relações familiares e dos amigos, temos dificuldades com emprego, com discriminação, com a violência, com liberdade etc..... No momento atual, o Vietnã de agora, no Brasil, está sendo a copa e as olimpiadas; Esses eventos estão sendo o estopim pra muito grito contido, pra muita reclamação. Existem muitos grupos pequenos, com causas pequenas, grupos grandes com causas grandes, que estão se juntando pra reclamar.
Estamos só no começo da era da informação. Com a chegada recente da comunicação de duas vias, as pessoas estão tendo uma cobertura da realidade quase que instantânea. Isto está fazendo com que as pessoas percebam o mundo com mais agilidade.
Eu acredito na evolução do ser humano, acredito que a humanidade esta caminhando pra um lugar melhor; não acredito em revolução combinada, armada, arranjada, a revolução que estamos vivendo é interna de cada pessoa. É uma mudança de dentro pra fora, sem confrontos. Não acredito em mudar os macacos velhos; quem é corrupto, quem tira dinheiro da merenda das criancinhas, esses caras não vão mudar....mas os filhos deles vão, um por um, criança por criança.
Acontece Curitiba: Há uso de drogas ilícitas neste mundo alternativo de seis dias, ou uma pergunta desse tipo já carrega uma carga enorme de preconceito?
A humanidade tem convivido com o uso de drogas desde sempre, desde o começo dos tempos. Não considero que seja de nossa responsabilidade ditar oque cada pessoa deve ou não usar. Isso deve ser uma escolha pessoal. Quem utiliza qualquer tipo de droga, seja ela uma simples planta ilícita, ou alguma bebida multinacinal tabelada, vai fazer essa utilização aonde estiver, se a pessoa for pra praia, ela vai tomar o porre dela lá, se optar em passar o carnaval em casa, a mesma coisa.
O que nós podemos fazer, é propor atividades culturais, esportivas, recreativas, durante o máximo de tempo possível, os participantes do festival tem a opção de passar varias horas do dia dele fazendo uma aula de yoga, ou um mini-curso de fotografia, ou assistir a uma peça de teatro, um show etc....e eles vão levar essas experiencias para suas casas, pro seu dia a dia.... A nossa vontade maior é ver pessoas saudáveis, felizes e de bem com a vida e com o meio, produzindo e contribuindo para a evolução, e dessa forma, na minha opinião, quanto mais consciente melhor.
Acontece Curitiba: “Os novos hippies têm celulares ultramodernos e não os utilizam para filmar ou fotografar shows o tempo todo”. Isso é ótimo! Uma curiosidade sobre isso: para os hippies, é possível (no mundo de hoje) se desligar do mundo sem estar off-line?
Não acredito que es pessoas de hoje queiram se desligar do mundo, elas querem viver novas experiencias, conhecer novas ideias, mas sempre pensando em repassar a informação. Isso acontece comigo pelo menos. Mesmo que eu va acampar no meio do mato, quero registrar a experiencia, e depois compartilhar. O fato das pessoas não ficarem filmando e fotografando o tempo todo, é porque elas estão conseguindo viver o presente com veracidade, elas estão registrando os fatos, as descobertas e as sensações em suas cabeças, em suas vidas, absorvendo o momento e aprendendo.
Obrigada por conversar conosco Alexandre..no próximo evento estaremos lá fazendo parte desta psicodélia que tanto amamos.
Paz e amor pra voces todos!
Claudia Cozzella
