Marieta Severo e Andréa Beltrão em As centenárias

Mulheres que tem como profissão chorar em velórios, sem ter com os falecidos qualquer grau de parentesco ou amizade. No passado, as chamadas carpideiras eram figuras comuns nos velórios que aconteciam no sertão do Brasil.

Agora, elas são as personagens principais do espetáculo As centenárias, que traz ao Guairão, em Curitiba, as atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão, dividindo o palco com Sálvio Moll e dirigidas por Aderbal Freire Filho.

O texto da peça é de autoria de Newton Moreno. “A tradição do carpir é milenar no Brasil, quase em extinção, mas, por ser um ofício quase codificado, guarda um ritual de grande teatralidade. O carpir é também próprio do universo feminino, maternal, do acarinhar, cuidar da morte de cada defunto como um filho”, diz o autor.

As carpideiras eram chamadas centenárias porque o povo costumava dizer que elas nunca morriam, pois tinham feito um pacto com a morte. Newton escreveu o roteiro do espetáculo especialmente para Andréa e Marieta, depois que elas assistiram a uma peça anterior dele, intitulada Agreste, e ficaram bastante comovidas.

“Eu e Marieta procuramos o que queremos fazer. Vimos a peça de Newton e ficamos encantadas. Por isso, o procuramos. O texto que encenamos é inédito”, conta Andréa.

A peça apresenta as personagens de Andrea (Zaninha) e Marieta (Socorro) moças, maduras e bastante idosas (uma com 108 e a outra com 111 anos). Em 1921, elas se conhecem e começam uma amizade. Zaninha vê Socorro carpir sua mãe e decidi seguir o ofício.

Posteriormente, em 2006, as duas esperam por um defunto que não chega e começam a recordar de velórios antigos, como o do coronel que quer se comunicar com a amante, o do cachorro baitola e o do palhaço enterrado com nariz.

“O assunto do espetáculo é fúnebre, mas tratado de maneira muito engraçada”, diz Andréa. “A maior aventura da vida das personagens é enganar a morte. Para isso, elas têm horário para chegar nos velórios, quando a morte já foi embora; sentem o cheiro da morte; e se fazem passar por outras pessoas”.

Segundo Marieta, a morte é o pano de fundo do espetáculo, onde várias histórias engraçadas são contadas. “A morte é o maior embate do ser humano. Na peça, o tema é tratado dentro da cultura nordestina, que envolve muito humor, esperteza e capacidade de se virar. As personagens enganam e vão driblando a morte. É tudo muito saboroso, com um texto de grande agilidade e vivacidade”, afirma.

De um tempo a outro, as atrizes têm o desafio de transitar da juventude para a velhice, do agir sobre o mundo para a fase do recordar e refletir. Se desdobram em cena apresentando diversas mudanças das personagens e ainda contracenam e manipulam bonecos de tamanhos diferentes. São utilizados em cena cerca de quatrocentos, que tanto fazem parte do cenário quanto participam como personagens ativos.

“A peça exigiu um treinamento enorme para que atuássemos com os bonecos. É muito engraçado, pois em alguns momentos contracenamos com nós mesmas em bonecos”, conta Marieta.

As centenárias estreou em 2007, no Teatro da Poeira, no Rio de Janeiro. Já foi assistido por cerca de 50 mil pessoas e tem dez prêmios acumulados, entre eles o Shell nas categorias de melhor autor, melhor atriz (Andréa Beltrão) e melhor cenário (Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque); e o Qualidade Brasil de melhor atriz (Marieta Severo), melhor diretor e melhor espetáculo de comédia 2008.

Serviço

Espetáculo As centenárias. De 7 a 10 de outubro, no Guairão (Rua XV de Novembro, 971).  Quinta, sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 18h. Ingressos: R$ 40,00.

 
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