Hoje divulga-se a ideia de que tudo na vida é fácil, tudo é light . O desenvolvimento dos produtos lighte diet foi uma maravilha: para uma pessoas diabética, por exemplo, que não pode usar açúcar, para uma pessoa que tem uma disfunção hormonal, que não pode entrar em contato com nenhum alimento que tenha açúcar.

Hoje esses produtos são consumidos por todos que querem emagrecer sem fazer esforço. E lightnão é para gordo emagrecer, é para magro não engordar. Então inventam tudo light: refrigerante light– cigarro light– doce light– manteiga light– pão light– tudo light. E o que significa light? Fácil.

O lightsignifica duas coisas: primeiro, é que não se vai as causas do problema; segundo, não se assumem as consequências das coisas da vida. Por trás disso, há um pensamento segundo o qual podemos comer a vontade que não engordamos. Pura ilusão: a pessoa só é gorda porque come demais ou por distúrbios do organismo. O lighttorna-se uma hipocrisia. A pessoa vai a churrascaria, come picanha, mas só bebe refrigerante light.

Nessa mentalidade do light, você não precisa analisar as causas, não precisa fazer esforço, não existe consequência. É triste: estamos criando uma sociedade light, na qual podemos fazer tudo, sem consequência nenhuma, abandonados ao destino. Existe literatura light, sexualidade light, estilo de vida light, o estilo de vida perfeito para o alienado.

O estilo de vida light gera uma sociedade sem esforço. “Eu faço quando quero; eu sou o centro, quando tenho algum problema eu exijo” Estamos criando uma geração de jovens light, fracos, que desistem diante de qualquer problema. Quando algum problema aparece, o light já tem a solução: um tapa no baseado, um raio no pó, uma bola na pedra...

A família lightnão tem raízes, não tem causas nem consequências. Ninguém provoca nada, não há dialogo nem questionamento. É uma “fami-ilha”: cada quarto é uma ilha. O filho chega de cara feia, bate as portas, tranca a porta do quarto dele e não se comunica com ninguém... algumas mães hoje não tem nem a permissão de entrar no quarto dos filhos...

No estilo de vida light, a pessoa vive na comodidade e chuta qualquer problema que surge: “Tira da minha frente”. Tudo se resolve. Assim como a roupa que estraga é jogada fora, como o copinho descartável do café, criam-se relacionamentos light, amizades light, que não têm profundidade nenhuma. Quando um problema aparece, ele não é superado, pois ninguém para pra conversar. Parar exige renúncia.

A pessoa quando vai ficando light, não consegue ver televisão sem o controle remoto na mão. Ela vê tudo, mas não vê nada, não se aprofunda em nada. A literatura é light. O que esse livro mudou na sua vida? Nada. Na literatura light, as pessoas se alimentam para ter conversas light, pois não tem coragem de falar de si mesmas. Não abrem o coração, não vivem a intimidade interna, mas precisam viver na exterioridade da comodidade para criar aparências.

Pense na ultima festa em que você esteve. Nas festas, conversa-se sobre a vida dos outros ou a respeito do personagem da novela. Na vida light, fala-se da vida alheia, para não se abrir o coração e dizer como está a própria vida, perceber o que é preciso mudar.

Não existe remédio mágico. Não existem remédios químicos para problemas que não são químicos, que são da alma. E a grande doença do mundo moderno está no coração frio, que não ama, que está despedaçado. Então, criam-se emoções falsas para você não viver emoções verdadeiras. A pessoa vai ver o filme e chora. Homens brigam em estádios de futebol, por causa de um time. Vivemos uma emoção que não é nossa.

A sociedade light cria emoções light: você sofre e briga por um time de futebol. Que me importa se um time perder uma partida de futebol? Não quero é perder minha vida. De que adianta o ser humano ganhar o mundo inteiro e vir a perder a si mesmo? Na sociedade light, está acontecendo isso. Você é um vitorioso para o mundo, você usa a roupa da moda, tem um cardo importante, tem um corpo todo sarado. E sua alma? E seu coração? Está cheio de cicatrizes, está frio, está machucado. Onde você está se refugiando?

Antigamente, no carnaval, o povo usava máscaras. Na sociedade light as pessoas usam máscaras todos os dias. As famílias estão mascaradas e mascarando o amor. Antigamente, no carnaval, se usava fantasia. Hoje se usa fantasia todos os dias. É preciso tirar a máscara, essa fantasia: nascemos para sermos felizes.

A vida é tão curta. Que interessa se as pessoas olham para nós, nos elogiam? As pessoas nos enganam dizendo que somos o centro. É a mesma coisa que terapia de vidas passadas: todas as pessoas já foram rei, rainha, príncipe e princesa, ninguém foi faxineiro, pobre, nada dessas coisas... penso que seja