A vida de PlinioIncompleto. É a palavra que melhor define o estado de espírito de Plínio. Dói tudo na alma, primeiro na alma, depois no corpo. Muito além de estar triste, de sentir-se triste, amargurado, decepcionado. Incompleto, pois a sua metade deixou de ser metade. Enquanto andava em direção a casa, lembrou-se de um poema lido há alguns anos. Devia ser um poema. Ou uma citação. Não lembrava. Era algo mais ou menos assim: Todo homem que entra num bordel está procurando Deus. Dobrou a esquina e viu a casa. A casa não é dela. Suas escolhas nem parecem mais ser. A felicidade não está naquela casa. Plínio vai até a porta e toca a campainha. O som é estridente e Plínio tem vontade de sair correndo. Não sai. Não é exatamente ele quem está ali. É um homem estranho, o qual Plínio tem vontade de quebrar todos os dentes e saborear cada gota de sangue a formar poça nos ladrilhos sujos da calçada que também não tem culpa. Ele esfrega os olhos e pensa em tocar a campainha mais uma vez. Quando vai o fazer, a porta abre. - Oi amor. – diz à moça que abre. Ah, o quanto me soa falso a palavra amor saída dos lábios desta... - Maroca? – Plínio pergunta, nervoso. - Euzinha. – responde pela fresta da porta. – Entra, amor. – arremata. O quarto é estreito, ou a cama que é grande demais. Os lençóis estão arrumados (será ele o primeiro do dia?), as cortinas não impedem que um tímido resquício do sol entre no aposento. Plínio tira a roupa depois de sua ilusão comprada. - Como vai ser? – ela pergunta. Plínio não sabe o que responder, dá um sorriso cretino. Maldito sol que entra no quarto. Sol lembra vida, e que vida? Mas que vida?- Você beija na boca? – pergunta ele e se sente o último dos homens. A dor da solidão bate mais forte em sua espinha dorsal. Sente que escorreu pelos dedos o amor próprio. Que amor? Eles se beijam e deitam sobre a cama. Os olhos de ambos estão fechados. - Eliana. – ele sussurra sem dar-se conta de quem pensou em voz alta. - É como você quer me chamar? – pergunta Maroca. Ele não responde e a beija novamente. Droga de quarto, está claro demais. “Amor” consumado, ele veste a calça com o dobro da velocidade que usou para tirá-la e entrega para a mulher um maço de dinheiro sem olhar em seus olhos. Na porta, que só agora Plínio reparou ser amarela, a prostituta olha para ele e diz: - Volte sempre, amor. - Volto sim. – responde Plínio automaticamente. Ele não vai voltar. Plínio vai para seu apartamento e escova os dentes por quase cinco minutos. Na pia do banheiro, ele nem havia reparado (vamos dizer que não), ainda há uma pequena moldura com a foto de Eliana. E a aliança está ali, na terceira gaveta. Um carro qualquer buzina lá fora e Plínio sente de novo aquela coisa na espinha, a dor de um vazio que não consegue explicar e que parece estar aumentando. Cada dia mais. Entediado, escova os dentes mais uma vez. Diego Gianni (27/10/2011) |
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